1. |
Eu Jejuo
01:11
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lave suas palavras
pois as minhas eu sujo
no chão infértil do desterro
eu cavo sentido
esquecido entre os dentes
apodrecendo lentamente
com vocábulos os mesmos de sempre.
mas não te serve
ao entendimento
não serve pra estampar
paredes ou cartazes
não servem nem como
meu pobre e egoísta banquete
eu enterro sentido.
eu jejuo.
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2. |
Mapas
02:23
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tempo
contado a cada segundo passado
mas sempre
por alguém que não eu
cheguei ao mais inóspito
de minhas terras descanso
corpo
mapa
trafegado e incapaz
deserto. riscado. tombado.
jovem e irresponsável
jogando sílabas ao vento
conquistando inimizades
tão fácil
vitrine exuberante de amarras
escolhemos as que ouvimos nas canções
que nos deixaram mais surdos
ser jovem
tão difícil
o mundo a acabar a cada segundo
sedutoras distopias
e o medo do nada
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3. |
Lírio / Foice
04:07
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afague meus cabelos
me trate com cuidado
dispa-me de incertezas
sobre o que é
o verdadeiro descaso
tanto o lírio
quanto a foice
pesam minhas mãos
por serem igualmente possíveis
acalme meus anseios
me envenene em microdoses
guie-me através dos limites
até o fim
dos espelhos o meu fim
é tão difícil ser verdadeiro
mais de um e necessariamente mutilados
ou morrerei de uma vez por todas
ou voltarei ressurrecto
como um cão
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4. |
Cinismo
02:10
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como você se sente
sem perspectiva
seu futuro pela frente
supostamente
supostamente obliterado
já elogiaram meu sorriso
várias vezes
todas falsas
eu sei muito bem
como sou por baixo dessa casca
por baixo dos olhares
todo moralismo sendo chamado como tal
toda voz alheia um zumbido
toda sensibilidade nulificada pelo desprezo
já elogiaram meu sorriso
mal sabem o que o motiva
toda falta de perspectiva
de empatia
meu futuro brilhante pela frente
supostamente obliterado
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5. |
Estímulo
02:55
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contando quantas vezes eu me desdisse
com medo de que as palavras invertessem o meu ser
amarrado entre a letra e o traço ilegível
eu me largo ao acaso do que vão ouvir
ao me escutar falar
atividades de duração delimitada
uniformes autoimpostos
comportamento aprimorado
máquina dentro de uma máquina
informações sobre como se portar em público
adquiridas por meio de confortáveis erros e dolorosas tentativas
eu me largo ao acaso do que vão ouvir ao me escutar falar
pras paredes
de trabalho humano
desumanamente remunerado
a nova era bate à porta
seja um bom anfitrião
se oponha a quem se opõe
seja um bom cão de guarda
não há terra prometida
não há terra a ser descoberta
não há terra desconhecida
tudo foi mapeado
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6. |
Dentes Batem
02:09
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ainda se preparando
mãos fechadas
não tripuladas
por discernimento ou bom senso
não imbuídas de qualquer espírito
que não o da pura destruição
sai fora da minha frente
eu me jogo através da porta
dentes batem
ninguém me avisou que seria assim
eu tento não me importar mais com você, como se a essa altura fizesse diferença. não faz
faz?
olha só o que você tá dizendo
eu quero cancelar todos os termos desse contrato
partilha estúpida
eu deitei sem esperar o dia seguinte
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7. |
Revanches
05:06
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não há ética
ainda que fria
sob a égide do capital
sob o utilitarismo renovado
de edificações tão desiguais
sonho com pássaros voando
e prédios novos desabando.
eu me reservo o direito
de ser um permanente embaraço
para toda a humanidade
um singelo lembrete
de incapacidade civilizatória
uma voz tão sólida quanto o ar
a erguer revanches tão frágeis
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