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Todos Os Ângulos
03:59
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De bom grado você assina os termos
De um contrato inofensivo entre espelhos
Numa sala fechada você faz suas malas
E inventa qualquer documento
É inevitável, sua vida foi traçada
Como um decalque livre de mistérios
A solidão te assegurou que nada fica guardado
Não muda muito um passo a mais ou a menos
Vigiado por todos os ângulos
Em defesa de uma comunhão plena
Seu disfarce te engana, ao final de uma carta
Você lê sua assinatura trêmula
Parecia um sonho sem história
Eles cercaram calmamente o terreno
Se apresentaram, um fato consumado
Os sonhos ninguém sabe do que são feitos
Até parece que você nunca soube
Os limites da sua partilha
As horas da noite em claro, insatisfeito e cansado
Não muda tanto um dia a mais ou a menos
Antecipado por todos os ângulos
Projetando o fim da sua cela
Sua letra te entrega, do outro lado da tela
Você lê sua assinatura trêmula
Agora eu controlo a era da imagem
Um artefato perene contra o tempo
Opiniões descartáveis de um rebanho em hiato
Esculpidas como código lento
É engraçado, suas mãos foram trocadas
E obedecem comandos sem começo
Sozinho você nunca sabe como passar o tempo
Não muda nada um dia mais ou a menos
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2. |
A Não Ser Que
02:34
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A não ser que você sonhe
Comigo ou algo que evoque
Como um prédio que uiva quando o vento
Pouco a pouco o dissolve
A não ser que você sonhe
Ou de outro sonho acorde
E sinta vir de longe
A poeira da mensagem
A não ser que você encontre
Um lembrete indesejado
Que eu jamais escreveria
Ou teria sussurrado
A não ser que você sonhe
Com um poço ou vale fundo
Em séculos seguintes
Onde existe uma só pedra
A não ser que você acorde
Com uma dessas improváveis
Certezas de que essa pedra
Foi moldada pelo vento
A não ser que você
Sinta o uivo que carrega
A não ser que você
Saiba sem saber o prédio
A não ser que esse vento que não se importa
Ofereça alguma história
Mas nada disso é agora
O vento não tem tempo
Está sempre no presente
Avesso aos prédios e a memória
Não existe vento velho ou novo
Calculado ou vindouro
Não existe lembrete de onde
O vento terá uivado
E eu sei que não será um bom sonho
E que as manhãs pra você nunca são fáceis
Ainda que você sonhe
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3. |
Um Banco De Dois Pés
02:51
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4. |
Cidade Fantasma
05:53
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Cidade fantasma
Os mortos te chamam
O tempo sem passo enobrece o tédio
As ruas se fecham
Sem luz e sem sombra
Um estado de trégua entre línguas inertes
Nem quentes nem frias
No canto dum rosto
O olho vazio e calmo da elevação
Sem memória
E principalmente
Livre de traços
Vis ou redentórios
Cidade de escombros
Trajeto alterado
Vigília dos planos
Os mortos te ligam
Pra saber
Se tá tudo bem
Cidade fantasma
Os vivos te ultrapassaram enquanto
Você procurava um lugar
Te avisaram
Que era melhor não sair
Sem um guarda-chuva
Que te separasse
Do resto
Das coisas
E das palavras
Um campo de força
De imunidade
Hermeticamente a salvo
E pressupondo a
Infecção
Dos sentidos
Cidade de mesmos
A vida é tão chata
Ridícula e frágil
Mal cabe numa ideia qualquer
Encontro furado
Eximo eu a culpa
E eu não posso
Com a civilização
Camuflagem:
Destino entreposto
Um céu sem horário
Cidade sem expansão
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5. |
Eu Não Entendo
02:53
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Há uma guerra silenciosa e automática
Que sufoca os braços e restringe a linguagem
Nosso trabalho não constrói nada
E nossa vida é nosso trabalho
O consumo te faz refém
De um sonho intruso que não é seu
Eu não entendo, eu não consigo entender
Nas ruas uma vontade fraca e sem tática
Todas as vidas importam mas umas nem tanto
As mais valiosas tentam narrar
Pros explorados que em tudo crêem
Que a fome é justa e a morte também
Fique na sua e cuide dos seus
Eu não entendo, eu não consigo entender
A suspeição se instaurou na mesa e na cama
Uma troca é um crime que te deixa atrelado
A um império onde os servos erguem
Muros manchados com o próprio sangue
Com o qual trocamos por satisfação
Qualquer vislumbre ingênuo de mudança
Eu não entendo, não consigo entender
Há um conflito de vozes sem nenhum propósito
Em que o soberano acesso informa o inapto
Você se mexe e não sai do lugar
Se sente só tentando pronunciar
As condições que julga especiais
São mero efeito de não se importar
Eu não entendo, eu não consigo entender
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6. |
Tendência Incontornável
02:50
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pra explorar
vil será
renegado
sem distração
eu faço questão
eu acho tudo tão
só
o ano novo ou
o ano que vem
aqui estou
depois de desdenhar
acho eu um
ser no olhar
e sou a
perfurada imagem
percebo
esfria
o aço do ar
nasce um órfão
fico sem ar
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7. |
Crucial
03:34
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Eu não quero o mundo
Não tenho ambição
Não procuro mais sentido
Não entendo a diversão
Eu não quero nada
Que me dê razão
Que me dê trabalho
Que me dê a mão
Eu não faço planos
Eu não sei contar
O sol entre nuvens
Ninguém viu passar
Eu aceito o jogo
Posso até perder
Pra mim é mais simples
Se eu me esquecer
E sair sem nada
Nos bolsos um sinal
De fracasso e mágoa
Um erro crucial
E por onde eu ando
Eu vou escolher
O caminho gasto
Não fui eu quem trilhei
Se eu ouço pedidos
Prefiro acatar
Eu não tenho nenhum
Melhor ver onde vai dar
Gosto do vazio
Quando consigo apagar
O discernimento
De me importar
E por mais que eu tente
Eu desaprendi
A estar com os outros
E a não partir
Eu já tive raiva
Tive medo também
Hoje eu só entendo
A decepção
Tudo envolto em plástico
Sem calor nem cor
Atrás da vitrine
Nada tem valor
Tá ao meu alcance
Mas eu já cansei
Eu não posso dar
O pouco que guardei
Eu não quero nada
Que me dê a mão
Que me dê sentido
Que me dê razão
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