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Sem Calor Nem Cor

by G. Paim

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1.
De bom grado você assina os termos
 De um contrato inofensivo entre espelhos Numa sala fechada você faz suas malas
 E inventa qualquer documento É inevitável, sua vida foi traçada 
Como um decalque livre de mistérios 
A solidão te assegurou que nada fica guardado 
Não muda muito um passo a mais ou a menos
 Vigiado por todos os ângulos Em defesa de uma comunhão plena Seu disfarce te engana, ao final de uma carta 
Você lê sua assinatura trêmula 
Parecia um sonho sem história 
Eles cercaram calmamente o terreno
 Se apresentaram, um fato consumado
 Os sonhos ninguém sabe do que são feitos Até parece que você nunca soube
 Os limites da sua partilha 
As horas da noite em claro, insatisfeito e cansado Não muda tanto um dia a mais ou a menos Antecipado por todos os ângulos
 Projetando o fim da sua cela
 Sua letra te entrega, do outro lado da tela Você lê sua assinatura trêmula Agora eu controlo a era da imagem Um artefato perene contra o tempo Opiniões descartáveis de um rebanho em hiato Esculpidas como código lento 
É engraçado, suas mãos foram trocadas E obedecem comandos sem começo Sozinho você nunca sabe como passar o tempo Não muda nada um dia mais ou a menos
2.
A não ser que você sonhe Comigo ou algo que evoque Como um prédio que uiva quando o vento Pouco a pouco o dissolve A não ser que você sonhe Ou de outro sonho acorde E sinta vir de longe A poeira da mensagem A não ser que você encontre Um lembrete indesejado Que eu jamais escreveria Ou teria sussurrado A não ser que você sonhe Com um poço ou vale fundo Em séculos seguintes Onde existe uma só pedra A não ser que você acorde Com uma dessas improváveis Certezas de que essa pedra Foi moldada pelo vento A não ser que você Sinta o uivo que carrega A não ser que você Saiba sem saber o prédio A não ser que esse vento que não se importa Ofereça alguma história Mas nada disso é agora O vento não tem tempo Está sempre no presente Avesso aos prédios e a memória Não existe vento velho ou novo Calculado ou vindouro Não existe lembrete de onde O vento terá uivado E eu sei que não será um bom sonho E que as manhãs pra você nunca são fáceis Ainda que você sonhe
3.
4.
Cidade fantasma Os mortos te chamam O tempo sem passo enobrece o tédio As ruas se fecham Sem luz e sem sombra Um estado de trégua entre línguas inertes Nem quentes nem frias No canto dum rosto O olho vazio e calmo da elevação Sem memória E principalmente Livre de traços Vis ou redentórios Cidade de escombros Trajeto alterado Vigília dos planos Os mortos te ligam Pra saber Se tá tudo bem Cidade fantasma Os vivos te ultrapassaram enquanto Você procurava um lugar Te avisaram Que era melhor não sair Sem um guarda-chuva Que te separasse Do resto Das coisas E das palavras Um campo de força De imunidade Hermeticamente a salvo E pressupondo a Infecção Dos sentidos Cidade de mesmos A vida é tão chata Ridícula e frágil Mal cabe numa ideia qualquer Encontro furado Eximo eu a culpa E eu não posso Com a civilização Camuflagem: Destino entreposto Um céu sem horário Cidade sem expansão
5.
Há uma guerra silenciosa e automática Que sufoca os braços e restringe a linguagem Nosso trabalho não constrói nada E nossa vida é nosso trabalho O consumo te faz refém De um sonho intruso que não é seu Eu não entendo, eu não consigo entender Nas ruas uma vontade fraca e sem tática Todas as vidas importam mas umas nem tanto As mais valiosas tentam narrar Pros explorados que em tudo crêem Que a fome é justa e a morte também Fique na sua e cuide dos seus Eu não entendo, eu não consigo entender A suspeição se instaurou na mesa e na cama Uma troca é um crime que te deixa atrelado A um império onde os servos erguem Muros manchados com o próprio sangue Com o qual trocamos por satisfação Qualquer vislumbre ingênuo de mudança Eu não entendo, não consigo entender Há um conflito de vozes sem nenhum propósito Em que o soberano acesso informa o inapto Você se mexe e não sai do lugar Se sente só tentando pronunciar As condições que julga especiais São mero efeito de não se importar Eu não entendo, eu não consigo entender
6.
pra explorar 
vil será 
renegado 
sem distração 
eu faço questão
 eu acho tudo tão
 só 

o ano novo ou
 o ano que vem
 aqui estou
 depois de desdenhar

 acho eu um
 ser no olhar
 e sou a perfurada imagem

 percebo
 esfria
 o aço do ar 
nasce um órfão 
fico sem ar
7.
Crucial 03:34
Eu não quero o mundo Não tenho ambição Não procuro mais sentido Não entendo a diversão Eu não quero nada Que me dê razão Que me dê trabalho Que me dê a mão Eu não faço planos Eu não sei contar O sol entre nuvens Ninguém viu passar Eu aceito o jogo Posso até perder Pra mim é mais simples Se eu me esquecer E sair sem nada Nos bolsos um sinal De fracasso e mágoa Um erro crucial E por onde eu ando Eu vou escolher O caminho gasto Não fui eu quem trilhei Se eu ouço pedidos Prefiro acatar Eu não tenho nenhum Melhor ver onde vai dar Gosto do vazio Quando consigo apagar O discernimento De me importar E por mais que eu tente Eu desaprendi A estar com os outros E a não partir Eu já tive raiva Tive medo também Hoje eu só entendo A decepção Tudo envolto em plástico Sem calor nem cor Atrás da vitrine Nada tem valor Tá ao meu alcance Mas eu já cansei Eu não posso dar O pouco que guardei Eu não quero nada Que me dê a mão Que me dê sentido Que me dê razão

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"Por quase todos os ângulos, há uma fratura que não cessa de se refazer. Sonhos são sem história. Contratos são assinados por mãos trocadas. A cidade fantasma, em escombros, é atravessada por uma multidão de mesmos. A natureza, anunciada pelo vento, mostra-se como ela é: indiferente. Essa fratura que se reinstaura a cada encontro fracassado com o outro, faz quem olha preferir recuar diante do mundo. Porém, nesse recuo, a recusa de estar com os outros faz da solidão um ponto de vista. Se nada muda um passo a mais ou a menos, um passo atrás permite ver o que o cerca. Nesse mundo em que o trabalho não constrói nada e em que nossa vida é o trabalho, nesse mundo Sem Calor Nem Cor, G. Paim nos faz acompanhar o olhar sobre um tempo que se estende sem mudar, a despeito dos dias.
Contudo, o cenário melancólico, com ares da poesia de fins do século XIX, não é feito só de palavras. A melancolia, aqui, é cantada, é música. Assim, o tempo que não passa é conflituosamente descrito em canção, arte que produz temporalidade rítmica e que tem duração cron ológica – isso sem falar da temporalidade dos gêneros musicais mobilizados no álbum, do pós-punk ao noise e o eletrônico, bem como dos instrumentos elétricos e digitais, dando origem a outra camada temporal, histórica. O som, com isso, acaba por traduzir palavras numa tensão: ritmo, melodia e história produzem recortes no tempo que os versos afirmam estender-se sempre igual. O que se produz nessa tensão é o que nos fará cantar sozinhos, juntos, que não conseguimos entender."

texto por Mario Sagayama

credits

released March 1, 2023

Captado por Akadindo e Gustavo Paim
Pré-mix por Akadindo
Mixado por Gil Mello
Masterizado por Michael Wilseque
Composições, letras, voz e instrumentos: Gustavo Paim
Produzido por Gustavo Paim e Akadindo
Bateria eletrônica na faixa "Cidade Fantasma" por Roompunx
Capa: Leonardo Faria.
Foto da capa: Aline Vieira

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